quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Belting e o tempo

Hoje, lendo alguns capítulos do livro "O fim da história da arte" de Hans Belting, o autor refletia sobre o tempo na arte multimídia, mas encontrei uma frase que se aplica não somente à arte, mas à vida:

"No nascimento e na morte recebemos apenas as datas extremas entre as quais está a unidade de tempo de uma vida. Elas tornam indiretamente visíveis o que escapa a toda visibilidade. Começo e fim emolduram apenas a extensão de tempo em que se forma a nossa consciência." p.129

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A reprodutibilidade da arte

Benjamin já nos anunciava a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica apontando que de início era possível reproduzir uma obra de arte copiando-a, seja para sua divulgação, para o estudo de novos artistas ou para lucrar com ela. Passado algum tempo, tivemos a ascensão da litografia, que copiava a obra de arte mais rapidamente. Mas foi com o surgimento da fotografia que a era da reprodutibilidade chegou ao seu topo.
Com apenas um click e com apenas um olhar é possível reproduzir uma obra de arte tal e qual.
A fotografia nos trouxe o instante, o agora, o momento e reproduziu com verosimilhança o que vemos, inclusive as obras de arte.
Mas Benjamin aponta para um aspecto que está contra a fotografia, a questão da aura.
Segundo Benjamin, mesmo na reprodução mais perfeita, falta algo fundamental para a obra de arte: o aqui e o agora. Sua história única em um local, sua aura.
Por mais que hoje tenhamos tanta tecnologia e possamos visitar museus online, temos tantos projetos desse tipo, temos tanto acervo de imagens digitais, nada substitui o aqui e o agora da obra de arte, nada substitui o contato direto e próximo com ela.
Temos tantas imagens a nosso dispôr e, por vezes, não sabemos nem o que fazer com elas.
Se pensarmos bem, dizia uma professora minha, os grandes historiadores da arte e pensadores, desde Vasari ao próprio Benjamin, não tiveram acesso a metade das imagens que temos hoje.
E o que fazemos com tanta imagem?
Nós nos rendemos a sua reprodutibilidade, e usamos isso para o bem. Como é democrático poder estudar uma Vênus de Milo e não precisar viajar até a França!
Mas invejo quem tem o privilégio de ir até lá e poder estar frente a frente com ela.
Pois a reprodutibilidade técnica não dá conta da complexidade de uma obra de arte.


 Vênus de Milo - Louvre

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

VALE A PENA IR AO MAJ



Gente, pra quem ainda não foi conferir o Schwanke no jardim do Museu de Arte de Joinville, olha, é muito legal ver de perto o trabalho de um artista joinvilense que a gente admira tanto.
E depois, por favor, vão até os anexos do MAJ na Cidadela Cultural Antártica conferir a exposição “À Deriva” que faz parte do Rumos do Itaú Cultural. A exposição é de arte contemporânea e está muito boa. Mas é indicada para maiores de 14 anos dizia a placa.
Fica o convite.
Nesse fim de semana, vale a pena ir ao MAJ!!!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Arte em Pleasantville - a vida em preto e branco



Assisti recentemente mais uma vez ao filme, o que me fez pensar sobre várias coisas, inclusive a arte, segue minhas considerações:


Cartaz do filme

O filme é sobre um garoto chamado David (Tobey Maguire) e sua irmã Jennifer (Reese Whiterpoon) que são transportados dos anos 90 para um seriado em preto e branco dos anos 50 através de um controle remoto.
A cidade de Pleasantville, onde o seriado se passa, como diz seu nome é um lugar muito agradável, onde tudo funciona perfeitamente bem e onde o marido ao chegar em casa pronuncia a célebre frase “Honey I’m home” (Querida, cheguei), e sua esposa o recebe com o jantar servido. Em Pleasantville a vida não tem fortes emoções, muito menos conflitos, mas isso muda consideravelmente com a chegada deste garoto e desta garota dos anos 90. 
Com a chegada dos novos personagens a cidade começa a conhecer as emoções, o sexo, o conhecimento e a arte. Os jovens da cidade começam a frequentar uma parte da cidade mais retirada do centro, onde há uma linda paisagem e um lago, e é lá que começam a descobrir sua sexualidade. E a medida que vão transgredindo as regras, as pessoas começam a ficar coloridas em meio a cidade e a todos os outros que continuam em preto e branco.
Surgem muitos conflitos na cidade, o jantar e a esposa já não estão mais no mesmo lugar, a roupa mal passada dói na pele de quem a veste, e os pequenos erros e desvios de percurso se tornam desconcertantes para quem ainda vive em preto e branco. Os conflitos se dão com parte das pessoas coloridas que gostam de escutar rock e se reunir em torno do lago e as pessoas que ainda estão em preto e branco e estão vivendo esse momento de incertezas, algo que não combina com a agradável Pleasantville.
Mas onde a arte entra neste filme? Quando David leva ao personagem dono de uma lanchonete Bill Johnson, vivido pelo ator Jeff Daniels, um catálogo com várias obras de arte, com obras de Matisse, Van Gogh, Picasso e outros importantes artistas modernos da história da arte. Bill pinta então em sua vitrine um papai-noel cubista muito colorido, o que choca a cidade. E mais tarde, no decorrer da história, Bill chega a pintar em sua vitrine uma mesa com natureza-morta e uma mulher nua, que representa uma das personagens do filme. 
Essa nudez na pintura é encarada como afronta e desencadeia uma onda de violência na cidade. Por fim, a partir de suas emoções afloradas, todos acabam por ficar coloridos em Pleasantville.
E o que podemos pensar sobre essa metáfora da vida em preto e branco e da vida colorida em relação a arte? Que a arte é emoção, é transgressão, a arte aponta novos caminhos. Que quando surge uma nova forma de se fazer arte, e a história das vanguardas não nos deixa mentir, boa parte das vezes esta nova forma não é compreendida e até desdenhada, como os Fauvistas que foram chamados de feras, no sentido pejorativo, e o que é hoje um Matisse? A beleza das cores, a emoção e a dança da vida pelas cores.
A cor em Pleasantville é muito parecida com a arte contemporânea. Muitas vezes incomoda, traz desconforto, nós não a entendemos de início e tentamos impedir mudanças, dizendo de uma forma até nostálgica que o que existia antes era melhor.
Na arte não existe melhor nem pior, existem novas formas de se pensar o mundo e pensar nossa existência nesse mundo em preto e branco que necessita cada vez mais de cor e arte.

Obra "Harmonia vermelha - mesa de jantar" de Matisse, 1908


Ficha Técnica
Título original: Pleasantville
Título no Brasil: Pleasantville - a vida em preto e branco
Ano: 1998
Nacionalidade: EUA
Direção: Gary Ross
Gênero: Comédia dramática; fantasia
Atores principais: Tobey Maguire; Reese Whiterpoon; Jeff Daniels; Joan Allen; William H. Macy

Viviane Baschirotto_05/10/2012