segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

"O espelho é uma utopia porque é um lugar sem lugar. No espelho vejo-me onde não estou, num espaço irreal que se abre virtualmente por trás da superfície, estou além, além onde não estou, espécie de sombra que me devolve a minha própria visibilidade, que me permite olhar-me além onde estou ausente: a utopia do espelho." 

Michel Foucault - Des espaces autres, Conferência proferida no Cercle des études architecturals, 14 de Março de 1967, publicada en Architecture, Mouvement, Continuité, nº 5, Outubro de 1984. Apud David Barro - Desenhando com tesouras a linha d horizonte In: Tatiana Blass

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O corpo em cena de Dora Longo Bahia


O corpo em Dora Longo Banhia está principalmente em meio a cenas de violência e guerra. A artista é paulistana, nascida em 1961. É uma artista multimídea, que trabalha com performance, ilustrações, fotografia e vídeo e a partir da década de 90, suas pinturas carregam temas como morte, violência e sexo. Mas suas obras também exploram, mais recentemente, uma questão da territorialidade, como Gel Poetics ou Escalpo Caioca

Com relação ao tema do corpo em cena, a artista possui obras em que se coloca no cotidiano violento, e outras aparentemente mais brandas, como no caso da série Imagens Infectadas (figura 1) de 1999. Essa série apresenta imagens tidas como “comuns” a qualquer pessoa, como as que guardamos no álbum de fotografia, para lembrar momentos importantes ou pessoais. São imagens que guardam cenas da vida cotidiana. Agnaldo Farias no texto Let it Bleed, nos aponta ainda que essas imagens estão alteradas pela ação dos fungos que a destroem com o tempo, na ação do calor e da luminosidade, as imagens de boas lembranças que queremos guardar são descoloridas, ficam sem vida em tons pastéis.  O autor ainda lembra que a fotografia é pensada para durar, mas essa durabilidade é efêmera, assim como a durabilidade do corpo humano retratado na fotografia. A imagem apenas estende um pouco a existência desse corpo através de sua reprodução. 

Podemos ter essa leitura poética de Agnaldo Farias ou também pensar em algo mais fictício. Em um mundo assombrado pela ideia de fim dos tempos, o cinema está repleto de exemplos de filmes, séries e criações de histórias fictícias sobre diversos vírus que poderiam se espalhar pelo planeta, atingindo a maioria da população mortalmente. Desde a adaptação de Seramago em Ensaio sobre a cegueira ou de Eu sou a Lenda. 

Nas fotografias de Dora Longo Banhia vemos respingos do que poderia ser sangue, contaminações através de espirros, que um dia dizimaram boa parte da população e o que restou, foram as lembranças do mundo comum retratado nas fotografias. 

Figura 1.Dora Longo Bahia. Sem título – da série Imagens Infectadas. Serigrafia e água tinta sobre papel, 2011.



FARIAS, Agnaldo. Let it bleed . <http://www.galeriavermelho.com.br/pt/artista/75/dora-longo-bahia/textos>. Acesso em: 31 de out. 2012.

ITAÚ Cultural: Enciclopédia Artes Visuais. Dora Longo Bahia. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=1553&cd_idioma=28555>. Acesso em: 31 de out. 2012.